Um dos argumentos mais comuns entre os que defendem que Israel não devolva aos palestinos as terras que ocuparam ilegalmente nos últimos 60 anos é o fato de alguns grupos radicais islâmicos terem apelado para a guerrilha e o terrorismo como resposta a ocupação e, também, por alguns destes grupos não reconhecerem a existência - e até mesmo pregarem a destruição – de Israel.
No Brasil, uma das principais vozes a defender este ponto de vista é a do articulista da revista Veja, Reinaldo Azevedo. No dia 17 de fevereiro, no comentário “Israel, a Paz e a Terra”, ele diz que “Israel não tem de desistir de um palmo de terra enquanto os palestinos não desistirem do terror” e que “sem isso, é melhor Israel desistir da paz... em troca de terra.”. Segundo Azevedo, a suposição “de que os terroristas querem terra apenas” é falsa, e sentencia: “Fosse isso, acreditem, elas já teriam sido dadas.”.
As citações acima são repletas de armadilhas para os incautos. Em primeiro lugar não se pede que Israel “desista” de terra alguma. O que se pede é que Israel devolva as terras ocupadas ilegalmente, conforme estabelecem as resoluções 181 e 242 da ONU. Em segundo lugar, os palestinos não escolheram o terror para lidar com a ocupação. Alguns grupos radicais entre os palestinos, isso sim, adotaram esta estratégia. Dizer que os “palestinos” devem abdicar do terror é o mesmo que dizer que todo israelense é racista e odeia os árabes, o que não é verdade. Finalmente, Azevedo mente ao dizer que as terras já teriam sido “dadas” aos “terroristas” se esta fosse a condição para o fim dos ataques contra Israel. Mente, pois a definição de terror a que Azevedo se refere nem sempre foi a arma palestina para recuperar as terras ocupadas. Durante as primeiras décadas do conflito, ele se desenrolou com agressões de ambas as partes, uma guerra de guerrilhas que, posteriormente, descambou para o terror de ambos os lados. E, diga-se, este terror, poderia ser aplicado com muito mais consistência, nestas décadas, aos grupos paramilitares israelenses que perpetraram massacres e limpeza étnica por toda a região.
Ou seja: o que os defensores de solução alguma – entre eles Azevedo – querem, de fato, é que o conflito perdure até que os palestinos não tenham outra opção que migrar para a Jordânia, o Egito, ou seja para onde for, deixando aos sionistas seu botim.
Pesos e medidas
Estes mesmos críticos que apontam os grupos islâmicos como empecilhos para qualquer tipo de negociação, se omitem quando o assunto é a radicalização do racismo e da intolerância religiosa em Israel. Em março de 2008, um relatório da ONG israelense Mossawa já apontava este fenômeno.
Além de acusar líderes políticos de criarem um clima de "legitimação ao racismo" contra os cidadãos árabes - que representam 20% da população do país - a pesquisa mostrava que 75% dos cidadãos judeus israelenses não estavam dispostos a morar no mesmo prédio com um vizinho árabe e que 61% deles não receberiam a visita de árabes em sua casa. A pesquisa indicava também que 55% dos entrevistados defendiam a separação entre judeus e árabes nos espaços de lazer e 69% dos estudantes secundários achavam que os árabes "não são inteligentes".
O relatório atribuiu esse fenômeno, em parte, ao agravamento do conflito entre israelenses e palestinos, mas também aponta o papel de líderes políticos no incitamento contra os cidadãos árabes.
No documento são citados ministros e parlamentares que "baseiam sua força em posições de ódio e incitam ao racismo". O político mais citado é Avigdor Liberman, líder do partido de extrema-direita Israel Beiteinu (Nossa Casa). Liberman foi nomeado na segunda-feira (16) ministro das Relações Exteriores, e seu partido terá outras importantes pastas (Segurança Interna e Turismo e Integração) no governo do primeiro-ministro designado Benjamin Netanyahu.
E o que defende o ministro das Relações Exteriores de Israel?
Em suas próprias palavras: "Os árabes israelenses são um problema ainda maior do que os palestinos e a separação entre os dois povos deverá incluir também os árabes de Israel... por mim eles podem pegar a baklawa (doce árabe típico) deles e ir para o inferno", afirmou.
Para Liberman, Israel deve "trocar" as aldeias árabes israelenses pelos assentamentos nos territórios ocupados, ou seja, as aldeias árabes passariam a fazer parte de um estado palestino e os assentamentos seriam anexados a Israel.
Importante dizer que os árabes israelenses a que se refere o ministro são cidadãos israelenses, da mesma forma que eram cidadãos alemães os judeus expulsos de suas casas por Hitler e enviados para o exílio forçado e para os campos da morte.
O jornalista Paulo Moreira Leite, no artigo “Ministro israelense tem ideias que lembram nazismo”, faz uma brilhante relação entre o que está ocorrendo em Israel e um passado tenebroso. “Em 1935, dois anos depois da ascensão de Hitler ao poder, foram aprovadas as primeiras leis de Nuremberg. Elas não criaram campos de concentração nem câmaras de gás, mas dividiam a população alemã em duas categorias. A dos cidadãos de ‘puro sangue alemão’, que tinham todos os seus direitos assegurados. Os outros, que não tinha a mesma origem, eram considerados ‘súditos do Estado’.”.
Liberman não está sozinho nesta sanha fascista. Yehiel Hazan, do partido Likud, referiu-se aos árabes como "vermes". O atual ministro da Habitação e Construção, Zeev Boim, do partido Kadima, disse que o "terrorismo islâmico poderia ter razões genéticas". O deputado do partido de direita Ihud Leumi, Efi Eitam, defendeu a expulsão dos palestinos da Cisjordânia e a exclusão dos cidadãos árabes israelenses da política do país. "Eles (os cidadãos árabes) são uma quinta coluna, traidores, não podemos permitir a permanência dessa presença hostil nas instituições de Israel", declarou. O rabino Dov Lior, líder dos assentamentos ilegais de Hebron e Kiriat Arba, proibiu seus seguidores de alugar casas a árabes ou de empregar funcionários árabes.
Conseqüência deste agigantamento do racismo contra os árabes e palestinos ocorreu no dia 12 de janeiro, quando a Comissão Central Eleitoral israelense proibiu três partidos árabes-israelenses (Pacto Democrático Árabe, Ra'am e Ta'al) de apresentarem suas listas para as eleições gerais que foram realizadas no dia 10 de fevereiro. A Suprema Corte de Israel derrubou a proibição.
Neste momento, Netanyahu pretende construir um governo deixando de lado as exigências do Kadima, partido da atual ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, que, no domingo, reafirmou que a legenda "só se juntará a um governo com o Likud se seu programa estabelecer a necessidade de dois Estados para dois povos (Israel e Palestino) e der continuidade ao processo de paz da conferência internacional de Annapolis (EUA)", celebrada em novembro de 2007.
No entanto, Netanyahu rejeita a idéia de um Estado palestino.
Portanto, seria interessante perguntar a Reinaldo Azevedo e aos que sacam rápido ao apontar o radicalismo islâmico e o terrorismo como empecilhos para a paz, se não seria, também, propício aos palestinos interromperem qualquer negociação e continuarem combatendo Israel enquanto os “israelenses” estiverem apoiando um primeiro ministro que se nega a cumprir as resoluções da ONU ou elegerem racistas que pregam políticas de exclusão racial e religiosa de forma aberta e com o apoio de importantes parcelas da população.
No Brasil, uma das principais vozes a defender este ponto de vista é a do articulista da revista Veja, Reinaldo Azevedo. No dia 17 de fevereiro, no comentário “Israel, a Paz e a Terra”, ele diz que “Israel não tem de desistir de um palmo de terra enquanto os palestinos não desistirem do terror” e que “sem isso, é melhor Israel desistir da paz... em troca de terra.”. Segundo Azevedo, a suposição “de que os terroristas querem terra apenas” é falsa, e sentencia: “Fosse isso, acreditem, elas já teriam sido dadas.”.
As citações acima são repletas de armadilhas para os incautos. Em primeiro lugar não se pede que Israel “desista” de terra alguma. O que se pede é que Israel devolva as terras ocupadas ilegalmente, conforme estabelecem as resoluções 181 e 242 da ONU. Em segundo lugar, os palestinos não escolheram o terror para lidar com a ocupação. Alguns grupos radicais entre os palestinos, isso sim, adotaram esta estratégia. Dizer que os “palestinos” devem abdicar do terror é o mesmo que dizer que todo israelense é racista e odeia os árabes, o que não é verdade. Finalmente, Azevedo mente ao dizer que as terras já teriam sido “dadas” aos “terroristas” se esta fosse a condição para o fim dos ataques contra Israel. Mente, pois a definição de terror a que Azevedo se refere nem sempre foi a arma palestina para recuperar as terras ocupadas. Durante as primeiras décadas do conflito, ele se desenrolou com agressões de ambas as partes, uma guerra de guerrilhas que, posteriormente, descambou para o terror de ambos os lados. E, diga-se, este terror, poderia ser aplicado com muito mais consistência, nestas décadas, aos grupos paramilitares israelenses que perpetraram massacres e limpeza étnica por toda a região.
Ou seja: o que os defensores de solução alguma – entre eles Azevedo – querem, de fato, é que o conflito perdure até que os palestinos não tenham outra opção que migrar para a Jordânia, o Egito, ou seja para onde for, deixando aos sionistas seu botim.
Pesos e medidas
Estes mesmos críticos que apontam os grupos islâmicos como empecilhos para qualquer tipo de negociação, se omitem quando o assunto é a radicalização do racismo e da intolerância religiosa em Israel. Em março de 2008, um relatório da ONG israelense Mossawa já apontava este fenômeno.
Além de acusar líderes políticos de criarem um clima de "legitimação ao racismo" contra os cidadãos árabes - que representam 20% da população do país - a pesquisa mostrava que 75% dos cidadãos judeus israelenses não estavam dispostos a morar no mesmo prédio com um vizinho árabe e que 61% deles não receberiam a visita de árabes em sua casa. A pesquisa indicava também que 55% dos entrevistados defendiam a separação entre judeus e árabes nos espaços de lazer e 69% dos estudantes secundários achavam que os árabes "não são inteligentes".
O relatório atribuiu esse fenômeno, em parte, ao agravamento do conflito entre israelenses e palestinos, mas também aponta o papel de líderes políticos no incitamento contra os cidadãos árabes.
No documento são citados ministros e parlamentares que "baseiam sua força em posições de ódio e incitam ao racismo". O político mais citado é Avigdor Liberman, líder do partido de extrema-direita Israel Beiteinu (Nossa Casa). Liberman foi nomeado na segunda-feira (16) ministro das Relações Exteriores, e seu partido terá outras importantes pastas (Segurança Interna e Turismo e Integração) no governo do primeiro-ministro designado Benjamin Netanyahu.
E o que defende o ministro das Relações Exteriores de Israel?
Em suas próprias palavras: "Os árabes israelenses são um problema ainda maior do que os palestinos e a separação entre os dois povos deverá incluir também os árabes de Israel... por mim eles podem pegar a baklawa (doce árabe típico) deles e ir para o inferno", afirmou.
Para Liberman, Israel deve "trocar" as aldeias árabes israelenses pelos assentamentos nos territórios ocupados, ou seja, as aldeias árabes passariam a fazer parte de um estado palestino e os assentamentos seriam anexados a Israel.
Importante dizer que os árabes israelenses a que se refere o ministro são cidadãos israelenses, da mesma forma que eram cidadãos alemães os judeus expulsos de suas casas por Hitler e enviados para o exílio forçado e para os campos da morte.
O jornalista Paulo Moreira Leite, no artigo “Ministro israelense tem ideias que lembram nazismo”, faz uma brilhante relação entre o que está ocorrendo em Israel e um passado tenebroso. “Em 1935, dois anos depois da ascensão de Hitler ao poder, foram aprovadas as primeiras leis de Nuremberg. Elas não criaram campos de concentração nem câmaras de gás, mas dividiam a população alemã em duas categorias. A dos cidadãos de ‘puro sangue alemão’, que tinham todos os seus direitos assegurados. Os outros, que não tinha a mesma origem, eram considerados ‘súditos do Estado’.”.
Liberman não está sozinho nesta sanha fascista. Yehiel Hazan, do partido Likud, referiu-se aos árabes como "vermes". O atual ministro da Habitação e Construção, Zeev Boim, do partido Kadima, disse que o "terrorismo islâmico poderia ter razões genéticas". O deputado do partido de direita Ihud Leumi, Efi Eitam, defendeu a expulsão dos palestinos da Cisjordânia e a exclusão dos cidadãos árabes israelenses da política do país. "Eles (os cidadãos árabes) são uma quinta coluna, traidores, não podemos permitir a permanência dessa presença hostil nas instituições de Israel", declarou. O rabino Dov Lior, líder dos assentamentos ilegais de Hebron e Kiriat Arba, proibiu seus seguidores de alugar casas a árabes ou de empregar funcionários árabes.
Conseqüência deste agigantamento do racismo contra os árabes e palestinos ocorreu no dia 12 de janeiro, quando a Comissão Central Eleitoral israelense proibiu três partidos árabes-israelenses (Pacto Democrático Árabe, Ra'am e Ta'al) de apresentarem suas listas para as eleições gerais que foram realizadas no dia 10 de fevereiro. A Suprema Corte de Israel derrubou a proibição.
Neste momento, Netanyahu pretende construir um governo deixando de lado as exigências do Kadima, partido da atual ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, que, no domingo, reafirmou que a legenda "só se juntará a um governo com o Likud se seu programa estabelecer a necessidade de dois Estados para dois povos (Israel e Palestino) e der continuidade ao processo de paz da conferência internacional de Annapolis (EUA)", celebrada em novembro de 2007.
No entanto, Netanyahu rejeita a idéia de um Estado palestino.
Portanto, seria interessante perguntar a Reinaldo Azevedo e aos que sacam rápido ao apontar o radicalismo islâmico e o terrorismo como empecilhos para a paz, se não seria, também, propício aos palestinos interromperem qualquer negociação e continuarem combatendo Israel enquanto os “israelenses” estiverem apoiando um primeiro ministro que se nega a cumprir as resoluções da ONU ou elegerem racistas que pregam políticas de exclusão racial e religiosa de forma aberta e com o apoio de importantes parcelas da população.
1 comentário:
Reinaldo Azavedo me causa enjoo. Diogo Mainard eu acho um polemista inconsequente, em busca de levantar polemica e causar espanto. Já o Reinaldo é aquilo mesmo: um homem convicto das merdas que diz, defensor - verdadeiro - das posturas reacionários - muitas vezes esbarrando com o racismo; defensor, em suma, de tudo de pior que já passou por essa terra. Abraços, meu camarada!
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