O debate de idéias é vital para a democracia. Saber expor sua opinião e ouvir a opinião alheia é premissa básica de civilidade. Há momentos, no entanto, em que é preciso um exercício de paciência e humildade para não ceder à tentação de mandar às favas quem pisa sobre questões básicas de humanidade e bom senso, preferindo ofertar com as mãos cheias porções de desfaçatez.
Lendo os blogs de Pedro Doria e Reinaldo Azevedo neste final de semana, pude traçar uma clara linha divisória entre a boa intenção e o puro espírito de porco.
No dia 29 de janeiro, na postagem “Aqueles próximos de nós”, Doria mostra o motivo pelo qual seu blog é ponto de parada obrigatória dos que querem informação e sagacidade. Ao comentar a tendência em radicalizar o discurso e transformá-lo em um castelo argumentativo a ser defendido com unhas e dentes diante dos que empunham contra nós as armas do contraditório, ele aponta o caminho para, no mínimo, a adoção de uma postura de respeito mútuo que deve permear as relações humanas.
“Podemos e devemos ter opiniões diferentes. A conversa tem melhor qualidade porque opiniões diferentes convivem. Podemos nos emocionar. Podemos defender nossos pontos de vista apaixonadamente. Mas devemos sempre ter em mente que aqueles do outro lado da discussão também têm opiniões, também têm paixões. E que, às vezes, estão muito mais próximos da realidade do que imaginamos.”, afirma.
Alguns dias depois, na postagem “VEJA 2 - Reinaldo Azevedo - "Um homem sem (certas) qualidades", o colunista do semanário mais amado e odiado do Brasil escolhe a contramão e desanca a nos oferecer seu estilo desdenhoso e pouco afeito ao diálogo.
Falando sobre as reações contrárias que recebe em relação as suas opiniões sobre o conflito entre Israel e palestinos, Azevedo chuta os argumentos e se encastela sobre a colina avisando de longe que ninguém se aproxime com ramos de oliveira. E, pior, classifica como “convicção” sua dificuldade para dialogar. Diz ele – referindo-se aos que ponderam que palestino e terrorista são duas coisas diferentes:
“Durante um bom tempo, a convicção viverá dias de desprestígio, e a afirmação que não apelar a zonas de ambiguidade e teorias da incerteza, para afetar tolerância e paixão pela especulação intelectual, será tachada de radical – e o radicalismo, claro, deve ser monopólio dos nossos inimigos... Tudo nos será permitido, exceto ter algumas velhas certezas. Você mesmo, leitor, deve ficar atento à orientação moral máxima destes tempos: ‘A virtude está no meio’ – ainda que esse ‘meio’, de fato, tenha lado. Fuja se alguém o ameaçar com uma moeda: ‘Cara ou coroa?’. Ele é um sabotador da virtude. Na praia, quando o sorveteiro lhe perguntar o sabor do picolé, pense no que você pode perder ao ser obrigado a fazer uma escolha. Opte pela incerteza e responda: ‘Qualquer um’. Diante de um sorveteiro, do aborto, dos foguetes do Hamas, da eutanásia, da comida japonesa, da pena de morte, do pagode, do Bolero de Ravel ou da ditadura cubana, prefira a dúvida que faz a fama dos sensíveis à certeza que faz a má fama dos dogmáticos. Não seja um lobo da estepe. Não provoque os outros com suas convicções. Não seja desagradável!”.
Azevedo é um mestre da retórica. O desavisado que o lê corre sério risco de ser cooptado e levantar os olhos pensando: “Não é que ele está certo?”. Mas em suas análises não é difícil encontrar o fio de linha que leva ao novelo da intolerância. Ainda comparando-o com Pedro Doria, é possível exemplificar isso com muita consistência. O assunto, o Irã.
Enquanto Doria faz uma leitura aprofundada e isenta de preconceitos sobre a situação irianiana no artigo “O Irã entre Ahmadinejad e Khatami”, Azevedo apela para o que sabe fazer: diatribes histéricas de quem elegeu um inimigo e transformou-o em meio de vida. Os artigos “Ahmadinejad, os EUA e a lógica” e “Jimmy Carter, o cretino filoterrorista” são bons exemplos de como a agressão em forma de palavra escrita, quando exercida por quem domina a arma, pode ser perigosa e nefasta aos mais simples esforços de entendimento e de desnudamento do que, de fato, ocorre a nossa volta.
Lendo os blogs de Pedro Doria e Reinaldo Azevedo neste final de semana, pude traçar uma clara linha divisória entre a boa intenção e o puro espírito de porco.
No dia 29 de janeiro, na postagem “Aqueles próximos de nós”, Doria mostra o motivo pelo qual seu blog é ponto de parada obrigatória dos que querem informação e sagacidade. Ao comentar a tendência em radicalizar o discurso e transformá-lo em um castelo argumentativo a ser defendido com unhas e dentes diante dos que empunham contra nós as armas do contraditório, ele aponta o caminho para, no mínimo, a adoção de uma postura de respeito mútuo que deve permear as relações humanas.
“Podemos e devemos ter opiniões diferentes. A conversa tem melhor qualidade porque opiniões diferentes convivem. Podemos nos emocionar. Podemos defender nossos pontos de vista apaixonadamente. Mas devemos sempre ter em mente que aqueles do outro lado da discussão também têm opiniões, também têm paixões. E que, às vezes, estão muito mais próximos da realidade do que imaginamos.”, afirma.
Alguns dias depois, na postagem “VEJA 2 - Reinaldo Azevedo - "Um homem sem (certas) qualidades", o colunista do semanário mais amado e odiado do Brasil escolhe a contramão e desanca a nos oferecer seu estilo desdenhoso e pouco afeito ao diálogo.
Falando sobre as reações contrárias que recebe em relação as suas opiniões sobre o conflito entre Israel e palestinos, Azevedo chuta os argumentos e se encastela sobre a colina avisando de longe que ninguém se aproxime com ramos de oliveira. E, pior, classifica como “convicção” sua dificuldade para dialogar. Diz ele – referindo-se aos que ponderam que palestino e terrorista são duas coisas diferentes:
“Durante um bom tempo, a convicção viverá dias de desprestígio, e a afirmação que não apelar a zonas de ambiguidade e teorias da incerteza, para afetar tolerância e paixão pela especulação intelectual, será tachada de radical – e o radicalismo, claro, deve ser monopólio dos nossos inimigos... Tudo nos será permitido, exceto ter algumas velhas certezas. Você mesmo, leitor, deve ficar atento à orientação moral máxima destes tempos: ‘A virtude está no meio’ – ainda que esse ‘meio’, de fato, tenha lado. Fuja se alguém o ameaçar com uma moeda: ‘Cara ou coroa?’. Ele é um sabotador da virtude. Na praia, quando o sorveteiro lhe perguntar o sabor do picolé, pense no que você pode perder ao ser obrigado a fazer uma escolha. Opte pela incerteza e responda: ‘Qualquer um’. Diante de um sorveteiro, do aborto, dos foguetes do Hamas, da eutanásia, da comida japonesa, da pena de morte, do pagode, do Bolero de Ravel ou da ditadura cubana, prefira a dúvida que faz a fama dos sensíveis à certeza que faz a má fama dos dogmáticos. Não seja um lobo da estepe. Não provoque os outros com suas convicções. Não seja desagradável!”.
Azevedo é um mestre da retórica. O desavisado que o lê corre sério risco de ser cooptado e levantar os olhos pensando: “Não é que ele está certo?”. Mas em suas análises não é difícil encontrar o fio de linha que leva ao novelo da intolerância. Ainda comparando-o com Pedro Doria, é possível exemplificar isso com muita consistência. O assunto, o Irã.
Enquanto Doria faz uma leitura aprofundada e isenta de preconceitos sobre a situação irianiana no artigo “O Irã entre Ahmadinejad e Khatami”, Azevedo apela para o que sabe fazer: diatribes histéricas de quem elegeu um inimigo e transformou-o em meio de vida. Os artigos “Ahmadinejad, os EUA e a lógica” e “Jimmy Carter, o cretino filoterrorista” são bons exemplos de como a agressão em forma de palavra escrita, quando exercida por quem domina a arma, pode ser perigosa e nefasta aos mais simples esforços de entendimento e de desnudamento do que, de fato, ocorre a nossa volta.
2 comentários:
Pra falar a verdade, estou com tanto nojo desse cara(Azevedo), que não consigo mais ler sem isenção. Então não funciona. Preciso respirar para poder enxergar algo além da repugnância que sinto. Coloco Mainard no mesmo barco. Mas, no momento, estou sem ar. Bj
Somos dois Adriana.
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