Semana On

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Poema de Natal

Balada homicida

É preciso matar o vizinho com um tiro de fuzil,
antes que ele compreenda os textos sagrados
e venha, como irmão, a seu lar,
comer do seu pão e beber do seu vinho.

É preciso degolar os amigos,
ou enforcá-los em seus cadarços
(eles não usam gravatas),
antes que eles entendam Marx,
decretem o fim da era dos desiguais
e venham exigir que você participe do combate,
deixando para trás sua coleção de tampinhas
de refrigerantes
e de caixinhas de Malrboro.

É preciso matar os homens
– contrariando Drummond –
antes que eles entendam a poesia que há nas coisas
e comecem a distribuí-la em seus gestos diários.
Assassiná-los antes que liguem para a sua casa
e convidem-no para ver a lua
ou um mosquito de Proust,
retirando você de seu conforto militar, remediado.

É preciso se matar, sobretudo se matar,
antes que a vida se refaça no interior dos lares
e a alegria volte a corar a face dos homens:
antes que eles se compreendam, venham à sua porta
e a derrubem, por acreditarem-na obsoleta.

Lucas Rafael Nolli

1 comentário:

ADRIANO NUNES disse...

Caro poeta,

Bom blog! Feliz Natal!

"ARTESANAL" (para meus pais e meus irmãos que suportam, todos os dias, a dor da distância e da ausência)


Estou triste e tudo dói
Em minh'alma. Nada achei,
Quando segui a dura lei
Do sonho. São apenas sóis


Brilhando nesse vazio,
Alguns versos de Natal.
Nesta vida artesanal,
Quase tudo é tão tardio.


Estou triste. Por que sempre
Espero romper o dia
Sem surpresa, sem presente?


Por que não me preveria,
O céu, dos três reis cadentes,
De Deus, da selvageria?

Adriano Nunes.