Balada homicida
É preciso matar o vizinho com um tiro de fuzil,
antes que ele compreenda os textos sagrados
e venha, como irmão, a seu lar,
comer do seu pão e beber do seu vinho.
É preciso degolar os amigos,
ou enforcá-los em seus cadarços
(eles não usam gravatas),
antes que eles entendam Marx,
decretem o fim da era dos desiguais
e venham exigir que você participe do combate,
deixando para trás sua coleção de tampinhas
de refrigerantes
e de caixinhas de Malrboro.
É preciso matar os homens
– contrariando Drummond –
antes que eles entendam a poesia que há nas coisas
e comecem a distribuí-la em seus gestos diários.
Assassiná-los antes que liguem para a sua casa
e convidem-no para ver a lua
ou um mosquito de Proust,
retirando você de seu conforto militar, remediado.
É preciso se matar, sobretudo se matar,
antes que a vida se refaça no interior dos lares
e a alegria volte a corar a face dos homens:
antes que eles se compreendam, venham à sua porta
e a derrubem, por acreditarem-na obsoleta.
Lucas Rafael Nolli
1 comentário:
Caro poeta,
Bom blog! Feliz Natal!
"ARTESANAL" (para meus pais e meus irmãos que suportam, todos os dias, a dor da distância e da ausência)
Estou triste e tudo dói
Em minh'alma. Nada achei,
Quando segui a dura lei
Do sonho. São apenas sóis
Brilhando nesse vazio,
Alguns versos de Natal.
Nesta vida artesanal,
Quase tudo é tão tardio.
Estou triste. Por que sempre
Espero romper o dia
Sem surpresa, sem presente?
Por que não me preveria,
O céu, dos três reis cadentes,
De Deus, da selvageria?
Adriano Nunes.
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