Semana On

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Nuvens

Que eu seja silêncio
enquanto você dorme
e sonha com nuvens.

Que seja água
enquanto tua face lisa
envelhece.

Que eu seja capaz de afogar o medo
e de te dar flores e sonhos.


Parte do livro Outros Sentidos, lançado em junho passado.

6 comentários:

BAR DO BARDO disse...

Olá, Victor!

Primeiramente, gostei do seu poema.
Número dois, acho que foi criado um problema. Por favor, pense a partir de agora como um poeta. Ocorre o seguinte, estou sendo acusado de plágio e não entendo o porquê disso. Fiz um soneto e o intitulei "Soneto de fidelidade". Qual o problema? Quero afirmar, sinceramente, que todo ele nasceu das minhas entranhas poéticas. Precisava de uma argumentação um pouco mais adequada para me defender. Estou meio confuso... e as pessoas já estão sendo até um pouco agressivas comigo. Se puder me ajudar, eu agradeceria muito. - Pimenta

Adriana Godoy disse...

Esse seu lado lírico me encanta. Beijo.

BAR DO BARDO disse...

Cara, é o seguinte, o "Soneto de fidelidade" é o texto em questão e ele é meu. E estão dizendo por aí que é um texto do Vinicius de Moraes, só que, por estar morto, não tem nem como existir alguma briga judicial, creio. Tenho o maior respeito pela obra do "poetinha", mas sele já morreu, repito. Conclusiva, agora: portanto, quem escrever - ou reescrever - esse texto torna-se dignatário de sua autoria. Ou estou equivocado? Aliás, bastaria fazer uma leitura desse texto para que automaticamente me pertencesse. Ou um texto existe sozinho, sem leitor? Perguntaria mais, há obra de arte que se baste apenas com o seu criador (primeiro) e a obra em si, sem um apreciador. O apreciador não é também dono e autor da obra???

BAR DO BARDO disse...

Obrigado, Victor, por seu parecer. Entendi, perfeitamente. Eu sou militar e professor de português e literatura. Trabalho no Colégio Militar e, atualmente, estou engajado numa seção que trabalha com alunos com baixo desempenho escolar. Na realidade, a peleja acerca do soneto demonstra que estou sendo bastante provocativo. Mas não estou pondo à prova opiniões diversas à minha. A questão da autoria me persegue há muito: é filosófica até o tutano. Então questiono, qual texto hoje no mundo poderíamos chamar de original (e, daí, autoral)? Texto é uma tessitura de vários outros textos. Todo texto é uma intoxicação verbal e os melhores deles, via de regra, são objeto de overdose.
E esse o lance. Por isso, agradeço o seu interesse e a resposta abalizada, coisa de poeta e intelectual. Mas o soneto é meu mesmo!!! Pimenta

P.S.: a verificação de palavras para a postagem deste comentário,exigida aqui embaixo, é "ingua"...

Barone disse...

Olá Henrique,

eu tive a impressão de ter entendido seu objetivo desde o início. A questão da autoria é mesmo subjetiva quando levamos em consideração a originalidade. Nós, que escrevemos, volta e meia nos deparamos com textos que parece já termos visto em outros lugares.

Recentemente escrevi um poema chamado Espelho.

“No espelho há um velho
De olhos cansados, pele e sal
Sou eu ali no espelho
Sou eu no espelho
Sou seu”


Descobri tempos depois um poema - sobre o mesmo tema - de Mário Quintana.

“Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...)
Parece meu velho pai - que já morreu! (...)
Nosso olhar duro interroga:
"O que fizeste de mim?" Eu pai? Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga... Que importa!
Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra,
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste...”

E, outro dia, li outro poema semelhante. Será plágio? Não. É que bebemos todos das mesmas fontes, como se o sentimento a flor da pele fosse um grande clichê. É inevitável que os temas se esbarrem.

BAR DO BARDO disse...

Última provocação do ano. Adoro o Quintana, conhecia o texto. E, em termos de espelho, só para demonstrar que sou um plagiador convicto, observe o que fiz nos dias 19 e 26:

Exemplo de tragédia

Estranho não ser homem, ser humano.
O bicho competente para a fama,
Eleito em egoísmo pelo plano
Dos panos e brocados: é uma dama!

Excêntrico no nome, ser insano,
Notícia todo dia lhe proclama
O centro da fofoca e dos enganos,
O foco que cai dentro do que inflama.

Sensível, de calcinhas com o porteiro.
Sensível, com seu terno e seu cocar.
Sensível, tem nos lábios um vermelho!...

Sinistro foi um dia no banheiro –
Tragédia! –, que impossível de ficar
Sozinho um egoísta sem espelho.

19 e 26 dez 08

Henrique Pimenta, Mario Quintana ou Vinicius de Moraes?