Baixada a poeira, ânimos mais relaxados, é hora de olharmos com mais cuidado para questões pontuais que dizem respeito aos interesses brasileiros diante da eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos. Como será o relacionamento dele com o Brasil, em especial nas questões econômicas? Alguns garantem que ele será vantajoso para nós. É o caso de Shannon O´Neill, doutora em ciência política pela Universidade Harvard e pesquisadora do Centro de Relações Internacionais (CFR), que, em recente entrevista à jornalista Ângela Pimenta, do Portal Exame, disse que o Obama presidente será menos protecionista do que foi o Obama candidato.
Esta possibilidade gera expectativas promissoras para a produção de fontes de energia alternativas, como os biocombustíveis, setor que tem sido alvo de pesquisas de ponta no Brasil com o etanol proveniente da cana de açúcar, por exemplo. Os otimistas acham que a vitória dos democratas deve fortalecer políticas públicas de incentivo ao uso de combustíveis limpos, o que poderá beneficiar o Brasil com a diminuição de tarifas de importação. Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), entidade que representa os produtores brasileiros de etanol, concorda: “Durante a campanha ele (Obama) levantou a hipótese de ampliar o volume de etanol utilizado no país para 225 bilhões de litros até 2030 e investir US$ 150 bilhões em energia renovável durante 10 anos”, aponta.
Ocorre que, diferente de seu oponente nas eleições, o senador republicano Jonh McCain, que disse literalmente que "eliminaria a tarifa sobre o etanol de cana-de-açúcar importada do Brasil", Obama terá dificuldades em fazer o mesmo. Para isso, teria que enfrentar o poderoso lobby dos produtores de milho de Iowa e Illinois (Barack Obama é senador por Illinois), Estados fundamentais para a sua eleição e que tem no futuro presidente um aliado de primeira hora. É o que aponta David Verge Fleischer, cientista político e professor da Universidade de Brasília, para quem “o Brasil não pode alimentar esperanças porque não sabemos como os lobbies vão tratar essa questão no Congresso (americano)".
E o Congresso americano não costuma prejudicar os interesses na nação, sugere Shannon O´Neill: “Será interessante ver de que maneira o novo governo vai lidar com essa tarifa, especialmente em face da agenda maior que Obama tem para segurança energética. É verdade que essa questão é bastante difícil de ser superada em função de nosso processo legislativo. Vocês brasileiros também sabem como é difícil ver matérias importantes aprovadas em seu Congresso”, afirma.
Para Jaime Finguerut, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), será difícil para Obama contrariar os interesses locais nesta questão: "Barack Obama é de Illinois, um estado da região produtora de milho naquele país, e o foco do Partido Democrata é manter esse esquema de suporte à produção. No entanto, a produção de álcool via milho, apesar de ser a maior do mundo, não é sustentável, pois depende de recursos governamentais".
Uma estratégia que os americanos podem usar para driblar este empecilho parece estar escondida no fortalecimento de uma política de energia limpa, em especial para outros países. Esta bandeira, ligada à slogans fáceis da agenda verde, pode ser vista nas propostas de Obama para a Amazônia – onde sugere que a produção de etanol no Brasil pode contribuir para a devastação amazônica (veja em português aqui) - e nas entrelinhas de estudiosos do tema como Daniel Esty, diretor do Centro de Leis e Políticas da Universidade de Yale, para quem o potencial brasileiro em liderar a produção de energia limpa só será possível caso o País “se mostre comprometido com seu próprio território”. Diz Esty: “Creio que o compromisso real é ver o Brasil realmente empenhado no compromisso global de reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. No momento o Brasil não está comprometido com reduções obrigatórias de emissões em seu próprio território”.
Daniel Esty foi um dos principais consultores da campanha de Obama no setor de energia e garante que o novo presidente americano trará “mudanças dramáticas” para o setor ambiental. Será que o etanol de milho será apresentado como carro chefe destas guinadas?
Provável se levarmos em conta a identidade de alguns dos principais colaboradores e investidores da campanha do democrata. O ex-senador Tom Daschle, por exemplo, que foi assessor de campanha de Obama, é diretor de três dos maiores grupos produtores de biocombustíveis dos Estados Unidos. O conselheiro para assuntos de energia, que acompanhou o presidente eleito durante o embate eleitoral, é Jason Grumet, conhecido lobista de produtores de etanol de milho. Ainda, é fato que os produtores de biocombustíveis estiveram entre os maiores financiadores da campanha de Obama. O próprio Obama disse recentemente que “a substituição do petróleo importado pelo etanol brasileiro não serviria aos interesses de segurança nacional e econômica dos Estados Unidos”.
Esta possibilidade gera expectativas promissoras para a produção de fontes de energia alternativas, como os biocombustíveis, setor que tem sido alvo de pesquisas de ponta no Brasil com o etanol proveniente da cana de açúcar, por exemplo. Os otimistas acham que a vitória dos democratas deve fortalecer políticas públicas de incentivo ao uso de combustíveis limpos, o que poderá beneficiar o Brasil com a diminuição de tarifas de importação. Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), entidade que representa os produtores brasileiros de etanol, concorda: “Durante a campanha ele (Obama) levantou a hipótese de ampliar o volume de etanol utilizado no país para 225 bilhões de litros até 2030 e investir US$ 150 bilhões em energia renovável durante 10 anos”, aponta.
Ocorre que, diferente de seu oponente nas eleições, o senador republicano Jonh McCain, que disse literalmente que "eliminaria a tarifa sobre o etanol de cana-de-açúcar importada do Brasil", Obama terá dificuldades em fazer o mesmo. Para isso, teria que enfrentar o poderoso lobby dos produtores de milho de Iowa e Illinois (Barack Obama é senador por Illinois), Estados fundamentais para a sua eleição e que tem no futuro presidente um aliado de primeira hora. É o que aponta David Verge Fleischer, cientista político e professor da Universidade de Brasília, para quem “o Brasil não pode alimentar esperanças porque não sabemos como os lobbies vão tratar essa questão no Congresso (americano)".
E o Congresso americano não costuma prejudicar os interesses na nação, sugere Shannon O´Neill: “Será interessante ver de que maneira o novo governo vai lidar com essa tarifa, especialmente em face da agenda maior que Obama tem para segurança energética. É verdade que essa questão é bastante difícil de ser superada em função de nosso processo legislativo. Vocês brasileiros também sabem como é difícil ver matérias importantes aprovadas em seu Congresso”, afirma.
Para Jaime Finguerut, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), será difícil para Obama contrariar os interesses locais nesta questão: "Barack Obama é de Illinois, um estado da região produtora de milho naquele país, e o foco do Partido Democrata é manter esse esquema de suporte à produção. No entanto, a produção de álcool via milho, apesar de ser a maior do mundo, não é sustentável, pois depende de recursos governamentais".
Uma estratégia que os americanos podem usar para driblar este empecilho parece estar escondida no fortalecimento de uma política de energia limpa, em especial para outros países. Esta bandeira, ligada à slogans fáceis da agenda verde, pode ser vista nas propostas de Obama para a Amazônia – onde sugere que a produção de etanol no Brasil pode contribuir para a devastação amazônica (veja em português aqui) - e nas entrelinhas de estudiosos do tema como Daniel Esty, diretor do Centro de Leis e Políticas da Universidade de Yale, para quem o potencial brasileiro em liderar a produção de energia limpa só será possível caso o País “se mostre comprometido com seu próprio território”. Diz Esty: “Creio que o compromisso real é ver o Brasil realmente empenhado no compromisso global de reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. No momento o Brasil não está comprometido com reduções obrigatórias de emissões em seu próprio território”.
Daniel Esty foi um dos principais consultores da campanha de Obama no setor de energia e garante que o novo presidente americano trará “mudanças dramáticas” para o setor ambiental. Será que o etanol de milho será apresentado como carro chefe destas guinadas?
Provável se levarmos em conta a identidade de alguns dos principais colaboradores e investidores da campanha do democrata. O ex-senador Tom Daschle, por exemplo, que foi assessor de campanha de Obama, é diretor de três dos maiores grupos produtores de biocombustíveis dos Estados Unidos. O conselheiro para assuntos de energia, que acompanhou o presidente eleito durante o embate eleitoral, é Jason Grumet, conhecido lobista de produtores de etanol de milho. Ainda, é fato que os produtores de biocombustíveis estiveram entre os maiores financiadores da campanha de Obama. O próprio Obama disse recentemente que “a substituição do petróleo importado pelo etanol brasileiro não serviria aos interesses de segurança nacional e econômica dos Estados Unidos”.
Portanto, apesar dos urras e loas entoados mundialmente ao primeiro presidente negro dos Estados Unidos, é preciso olhar com cuidado para os nossos próprios interesses, e nos prepararmos para o embate econômico que se avizinha.
4 comentários:
Obrigado pelo trabalho exaustivo de reportagem.
Este post vai já pro meu Delicious!
Olha,certamente, o Tio Sam vai continuar a poluir a Terra, desde que com isso continue mantendo a hegemonia. Não acredito em propostas ambientais dos E.U.A. somente para beneficiar a Terra, a não ser pela pressão externa, como os países da Europa ou da Ásia. Seja o presidente branco ou quase negro, ainda veremos o Império a destilar guerras e venenos, a ditar a ordem no mundo até que finalmente agonize até a morte. Bom, texto, Barone.
Debate complicado. Muito complicado. Eu que acredito que agora é hora de mudar, e colocar pra valer a tecnologia que já existe para se ter fontes de energia menos prejudiciais ao ambiente, acredito que se tem que revolucionar tudo. Mas agora, o que fazer com o Brasil? Que não sabe fazer outra coisa a não ser gasolina e álcool da cana de açúcar? Não sei... isso é matéria para os peristos, mas na minha humilde opinião, a hora é agora para todas as outras formas de energia que estão completamente à sombra no Brasil atual. Por isso que talvez a pressão que Obama coloque no Brasil para o país correr para o desenvolvimento de outras técnicas será vantagoso para as novas gerações, ou não e fica tudo igual! Existe o mito do "muita gente ficará desempregada", mas é mito! Se outras formas de tecnologia aparecerem muita gente vai se empregar também. Sermos mais humanos com o meio ambiente implicará em sermos mais humanos com nós mesmos.
Diego, eu é que agradeço a sua visita. É, o debate realmente é complicado e não dá para acreditar em tudo sem uma ponta de ceticismo.
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