Não tenho o hábito de concordar com as opiniões emitidas por Diogo Mainardi, mas um fato ocorrido ontem me fez lembrar seu artigo desta semana na revista Veja, intitulado “O brasileiro Obama”. Argumenta o articulista que a mídia norte-americana procurou abafar todos os fatos que pudessem criar problemas para o candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos. Segundo Mainardi, “qualquer pergunta sobre Barack Obama foi caracterizada de racismo, ou de asneira, ou de caipirice”, pela imprensa daquele País.
Ocorre que tive ontem pela manhã um debate acalorado com uma colega jornalista (por quem tenho muito carinho e admiração profissional) cujos argumentos me lembraram um pouco os que Mainardi atribuiu à imprensa pró Obama: àquela tendência de tudo perdoar, de tudo aceitar e relevar por parte de quem defendemos, apoiamos ou dependemos.
Minha concordância com as teses de Mainardi termina aqui, nesta análise pinçada do artigo – cujo conteúdo (aviso aos mais afoitos) repudio. Mas, assim como ele atribuiu à imprensa norte-americana uma leniência para com Obama, da mesma forma setores de nossa imprensa são lenientes para com a questão indígena.
Explico a situação. Recentemente escrevi um artigo intitulado A coerção ao exercício do Jornalismo no MS (reproduzido ontem no Observatório da Imprensa). Nele, faço um apanhado dos casos de agressões e ameaças a jornalistas ocorridas em Mato Grosso do Sul nos últimos oito anos. Entre os casos citados no artigo está o da equipe da MS Record (composta pelo repórter Edson Godoy, pelo repórter cinematográfico Cleiton Bernardi e pelo auxiliar Erick Machado) que foi ameaçada por índios Terena e teve seu material de trabalho confiscado enquanto gravava uma reportagem sobre a ocupação indígena da fazenda Petrópolis (no município de Miranda), de propriedade do ex-governador do estado, Pedro Pedrossian.
Ocorre que minha colega sentiu-se indignada pelo fato de eu ter exposto a agressão e as ameaças cometidas pelos índios como se fossem da mesma categoria das agressões e ameaças cometidas por políticos, mandatários e demais “civilizados”. A argumentação foi de que “índio é diferente”, que “temos que relevar” e que “chegar de mansinho nas aldeias”. Indignada, ela questionava os motivos pelos qais eu havia incluído o fato entre a lista de agressões e ameaças que compunha o artigo.
Foi uma reação típica, fundada no modo como tratamos as populações indígenas no Brasil.
É fato que a política indigenista promovida pelo Governo Federal e pela Funai nas últimas décadas é perniciosa (em especial para os próprios índios). Excluindo as poucas tribos isoladas, com pouco ou nenhum contato com a cultura do homem branco, a maioria das populações indígenas do País está imersa em bolsões entranhados em meio à civilização. Estes índios há muito abandonaram seu modo de vida dependente da coleta e da caça. Vivem, isso sim, do paternalismo governamental, de sub-empregos nas cercanias das tribos ou da devastação de suas terras (basta perguntar quem está entre os maiores contrabandistas de madeira na Amazônia). São espectros vagando entre um passado de tradições e um presente pontilhado pela presença inexorável do homem branco.
Estas populações precisam, sim, ter sua cultura preservada e incentivada, mas isso só é possível com cidadania. Muitas tribos norte-americanas mantém suas tradições imersas na cultura branca e com isso ganham em educação, formação técnico-científica e cultural o que, por conseqüência, leva desenvolvimento e melhores condições de vida a estes mesmos povos.
A visão paternalista que temos sobre os povos indígenas, esta tendência de achar que tudo é permissível para o “bom selvagem”, apenas colabora para lançar estes povos no fosso da pobreza e da desagregação. É necessário repensar o tema. Para isso, no entanto, é preciso mexer em um vespeiro no qual poucos homens públicos (e jornalistas) querem colocar a mão.
Ocorre que tive ontem pela manhã um debate acalorado com uma colega jornalista (por quem tenho muito carinho e admiração profissional) cujos argumentos me lembraram um pouco os que Mainardi atribuiu à imprensa pró Obama: àquela tendência de tudo perdoar, de tudo aceitar e relevar por parte de quem defendemos, apoiamos ou dependemos.
Minha concordância com as teses de Mainardi termina aqui, nesta análise pinçada do artigo – cujo conteúdo (aviso aos mais afoitos) repudio. Mas, assim como ele atribuiu à imprensa norte-americana uma leniência para com Obama, da mesma forma setores de nossa imprensa são lenientes para com a questão indígena.
Explico a situação. Recentemente escrevi um artigo intitulado A coerção ao exercício do Jornalismo no MS (reproduzido ontem no Observatório da Imprensa). Nele, faço um apanhado dos casos de agressões e ameaças a jornalistas ocorridas em Mato Grosso do Sul nos últimos oito anos. Entre os casos citados no artigo está o da equipe da MS Record (composta pelo repórter Edson Godoy, pelo repórter cinematográfico Cleiton Bernardi e pelo auxiliar Erick Machado) que foi ameaçada por índios Terena e teve seu material de trabalho confiscado enquanto gravava uma reportagem sobre a ocupação indígena da fazenda Petrópolis (no município de Miranda), de propriedade do ex-governador do estado, Pedro Pedrossian.
Ocorre que minha colega sentiu-se indignada pelo fato de eu ter exposto a agressão e as ameaças cometidas pelos índios como se fossem da mesma categoria das agressões e ameaças cometidas por políticos, mandatários e demais “civilizados”. A argumentação foi de que “índio é diferente”, que “temos que relevar” e que “chegar de mansinho nas aldeias”. Indignada, ela questionava os motivos pelos qais eu havia incluído o fato entre a lista de agressões e ameaças que compunha o artigo.
Foi uma reação típica, fundada no modo como tratamos as populações indígenas no Brasil.
É fato que a política indigenista promovida pelo Governo Federal e pela Funai nas últimas décadas é perniciosa (em especial para os próprios índios). Excluindo as poucas tribos isoladas, com pouco ou nenhum contato com a cultura do homem branco, a maioria das populações indígenas do País está imersa em bolsões entranhados em meio à civilização. Estes índios há muito abandonaram seu modo de vida dependente da coleta e da caça. Vivem, isso sim, do paternalismo governamental, de sub-empregos nas cercanias das tribos ou da devastação de suas terras (basta perguntar quem está entre os maiores contrabandistas de madeira na Amazônia). São espectros vagando entre um passado de tradições e um presente pontilhado pela presença inexorável do homem branco.
Estas populações precisam, sim, ter sua cultura preservada e incentivada, mas isso só é possível com cidadania. Muitas tribos norte-americanas mantém suas tradições imersas na cultura branca e com isso ganham em educação, formação técnico-científica e cultural o que, por conseqüência, leva desenvolvimento e melhores condições de vida a estes mesmos povos.
A visão paternalista que temos sobre os povos indígenas, esta tendência de achar que tudo é permissível para o “bom selvagem”, apenas colabora para lançar estes povos no fosso da pobreza e da desagregação. É necessário repensar o tema. Para isso, no entanto, é preciso mexer em um vespeiro no qual poucos homens públicos (e jornalistas) querem colocar a mão.
5 comentários:
a inclusão da violência indígena em seu artigo é, aliás, uma dos pontos que merece elogio. Li o texto que deu origem à discussão.
Mais uma vez, parabéns.
Acho que essa visão paternalista que tendemos a ter em relação a alguns temas só faz minar o que poderia florescer. Isso acontece também em relação a deficientes visuais, por exemplo, que mendigam esmola ou vendem loteria, ao invés de correrem atrás de sua cidadania. Houve avanços consideráveis nesses aspectos, sobretudo, da mudança de olhar, da valorização do que era simplesmente ignorado ou menosprezado.
Seu artigo aborda bem essa questão e também tenho que concordar com o execrável Mainard. Há que se ter olhos bem atentos ao que está sendo oculto.
Parabéns pelo artigo, posso usá-lo em sala de aula pra discussão??
Parabéns por esse texto, concluiu em palavras expressivas o que eu também percebo nesses meus poucos anos de "experiência" de vida e visão à respeito do assunto.
Acho incrível que na atualidade membros de aldeias indígenas, que álias, de indígena restaram apenas as poucas penas, possam usar de escudo uma questão afetivo cultural como pretexto para benefícios que ningém possui.E tornar difícil com utilização dos meios que você cita, a entrada da imprensa para mostrar com transparência as questões do mesmos.Abraço
Herança maldita dos iluministas, a mãe de todo o politicamente-correto... acentuada pelos nossos Modernistas: tudo o que vem de fora da civilização/classe média pra cima é puro, sadio e forte.
Esse paternalismo não deixa de ser uma desumanização das minorias, como todo o bom racismo, ao privar da dimensão do erro.
Enfim...
É pessoal, a questão é muito complexa. É claro que as culturas indígenas precisam ser preservadas e os indígenas cuidados até que possam viver por si mesmos. Mas, como eu disse, isso só acontecerá com cidadania, integração e sem paternalismo.
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