Foi divulgada na sexta-feira (15) o Latinobarómetro, pesquisa anual da Economist sobre o pensamento político dos cidadãos latino-americanos. O levantamento aponta um tênue e progressivo aumento no apoio à democracia e suas instituições na América Latina, ancorado em cinco anos de crescimento econômico. Mostra também, no entanto, que em alguns países o tipo de regime político tem menos peso que a resolução prática de seus problemas imediatos. O Brasil é um bom exemplo. Entre os brasileiros ouvidos pela pesquisa, a democracia passou a ser o regime preferido de 47%, contra 43% no ano passado (e 30% em 2001), embora 57% tenham afirmado que não se importariam de ter um governo não democrático desde que este resolvesse problemas econômicos.
Uma comparação entre as pesquisas de 2001 e 2008 mostra que os índices de banalização da democracia frente a uma opção autoritária vem se mantendo em níveis próximos na América Latina. Em 2001 o percentual de entrevistados que trocaria a democracia por uma ditadura, caso esta fosse mais competente para guiar a economia de seu País, era de 51%, contra 55% em 2004 e 53% em 2008.
Outro aspecto que diferencia o Brasil de seus vizinhos no continente é a pouca importância atribuída pelos brasileiros aos partidos políticos e ao Congresso. Enquanto 56% dos latino-americanos disseram que “não pode haver democracia sem partidos políticos”, o índice entre os brasileiros ficou em 46%. A mesma afirmação feita em relação ao Congresso Nacional reuniu 57% dos latino-americanos e 45% dos brasileiros. Deve-se citar, no entanto, que em 2001 o percentual de latino-americanos que dizia não poder haver democracia sem a presença do Congresso era de apenas 49%.
O estudo promovido pela Economist (conduzido pelo IBOPE no Brasil, que ouviu 1204 pessoas entre os dias 1º de setembro e 11 de outubro) faz uma relação profunda entre o apoio concedido pelos latino-americanos à democracia e a situação econômica da região. Em 1997, por exemplo, ano em que o crescimento econômico na região foi de 6.6%, o espírito democrático contagiou 63% dos latino-americanos enquanto, em 2001, com a crise asiática e um crescimento de apenas 0,3%, o apoio à democracia foi de 48%.
O peso da economia sobre o apoio à democracia na América Latina pode ser observado com mais propriedade (sob os dados do Latinobarómetro) ao analisarmos o que ocorreu a partir de 2001, quando a democracia começa a ganhar mais apoio popular mantendo-se em 53% até 2005, passando a 58% em 2006, caindo para 54% em 2007 e indo a 57% em 2008. Em outras palavras, a crise asiática produziu mais variação negativa sobre o apoio à democracia do que o impacto positivo de cinco anos de crescimento econômico (o maior dos últimos 40 anos na região). Resumindo, a economia produz mais castigos do que recompensas para a democracia.
Os resultados da pesquisa deste ano sugerem que os latino-americanos têm, ainda, um forte viés autoritário, fruto do caudilhismo e paternalismo histórico de seus governos. Por exemplo: segundo o Latinobarómetro, 70% dos latino-americanos (e 60% dos brasileiros) considera que os Governos não governam para a maioria, mas para os interesses de poucos. Por outro lado, o desempenho dos governantes é visto com mais complacência, sendo aprovado por 52% dos entrevistados (79% dos brasileiros ouvidos aprova o Governo Lula). Interessante perceber o paradoxo que reside no fato de a pesquisa apontar que os governantes gozam de melhor avaliação que as democracias nas quais estão inseridos.
Nesta incongruência entre o olhar do latino-americano sobre democracia e governo, o caso brasileiro se mostra intrigante: apenas 38% dos entrevistados se disseram satisfeitos com a democracia e só 27% afirmaram que a economia do País vai bem (contra 37% e 23% dos demais latino-americanos, respectivamente), apesar dos altos índices de aprovação ao presidente.
Democracia representativa e ceticismo – O peso do voto tem se fortalecido entre os latino-americanos. A pesquisa aponta que 59% deles (58% dos brasileiros) apostam na democracia representativa como a melhor forma de “mudar as coisas”. A participação em movimentos sociais que protestam e exigem as mudanças de forma direta encontra apoio de apenas 16% dos latino-americanos (e de 22% dos brasileiros). Há, também, os céticos, os que não crêem ser possível que a população possa influenciar em qualquer tipo de mudança: são 14% dos latino-americanos ouvidos (11% dos brasileiros).
Uma comparação entre as pesquisas de 2001 e 2008 mostra que os índices de banalização da democracia frente a uma opção autoritária vem se mantendo em níveis próximos na América Latina. Em 2001 o percentual de entrevistados que trocaria a democracia por uma ditadura, caso esta fosse mais competente para guiar a economia de seu País, era de 51%, contra 55% em 2004 e 53% em 2008.
Outro aspecto que diferencia o Brasil de seus vizinhos no continente é a pouca importância atribuída pelos brasileiros aos partidos políticos e ao Congresso. Enquanto 56% dos latino-americanos disseram que “não pode haver democracia sem partidos políticos”, o índice entre os brasileiros ficou em 46%. A mesma afirmação feita em relação ao Congresso Nacional reuniu 57% dos latino-americanos e 45% dos brasileiros. Deve-se citar, no entanto, que em 2001 o percentual de latino-americanos que dizia não poder haver democracia sem a presença do Congresso era de apenas 49%.
O estudo promovido pela Economist (conduzido pelo IBOPE no Brasil, que ouviu 1204 pessoas entre os dias 1º de setembro e 11 de outubro) faz uma relação profunda entre o apoio concedido pelos latino-americanos à democracia e a situação econômica da região. Em 1997, por exemplo, ano em que o crescimento econômico na região foi de 6.6%, o espírito democrático contagiou 63% dos latino-americanos enquanto, em 2001, com a crise asiática e um crescimento de apenas 0,3%, o apoio à democracia foi de 48%.
O peso da economia sobre o apoio à democracia na América Latina pode ser observado com mais propriedade (sob os dados do Latinobarómetro) ao analisarmos o que ocorreu a partir de 2001, quando a democracia começa a ganhar mais apoio popular mantendo-se em 53% até 2005, passando a 58% em 2006, caindo para 54% em 2007 e indo a 57% em 2008. Em outras palavras, a crise asiática produziu mais variação negativa sobre o apoio à democracia do que o impacto positivo de cinco anos de crescimento econômico (o maior dos últimos 40 anos na região). Resumindo, a economia produz mais castigos do que recompensas para a democracia.
Os resultados da pesquisa deste ano sugerem que os latino-americanos têm, ainda, um forte viés autoritário, fruto do caudilhismo e paternalismo histórico de seus governos. Por exemplo: segundo o Latinobarómetro, 70% dos latino-americanos (e 60% dos brasileiros) considera que os Governos não governam para a maioria, mas para os interesses de poucos. Por outro lado, o desempenho dos governantes é visto com mais complacência, sendo aprovado por 52% dos entrevistados (79% dos brasileiros ouvidos aprova o Governo Lula). Interessante perceber o paradoxo que reside no fato de a pesquisa apontar que os governantes gozam de melhor avaliação que as democracias nas quais estão inseridos.
Nesta incongruência entre o olhar do latino-americano sobre democracia e governo, o caso brasileiro se mostra intrigante: apenas 38% dos entrevistados se disseram satisfeitos com a democracia e só 27% afirmaram que a economia do País vai bem (contra 37% e 23% dos demais latino-americanos, respectivamente), apesar dos altos índices de aprovação ao presidente.
Democracia representativa e ceticismo – O peso do voto tem se fortalecido entre os latino-americanos. A pesquisa aponta que 59% deles (58% dos brasileiros) apostam na democracia representativa como a melhor forma de “mudar as coisas”. A participação em movimentos sociais que protestam e exigem as mudanças de forma direta encontra apoio de apenas 16% dos latino-americanos (e de 22% dos brasileiros). Há, também, os céticos, os que não crêem ser possível que a população possa influenciar em qualquer tipo de mudança: são 14% dos latino-americanos ouvidos (11% dos brasileiros).
2 comentários:
Nossa, bastante dados nesse artigo seu. Eu acho que mesmo tendo uma parte da populacao tao grande dentro do Brasil que apoia a voz do povo para se mudar as coisas, eu sinto que falta mais informacao e vontade de mudar. Falta realmente todas as pessoas comecarem a perceber que nao e o que vc ouve no jornal nacional que representa a verdade e acabou. Voce tem que ir atras do que ESTA por tras do que e mostrado para nos, sem medo, e essa sua pesquisa que ira ditar o que devemos ou nao fazer com o nosso poder dentro de uma democracia - que seria nulo se nao houvesse informacao.
O brasileiro ainda é muito acomodado Alice. Vive esperando que outros resolvam seus problemas. Isso é fatal para qualquer democracia.
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