E há a insondável escuridão
a transbordar das escarpas do mundo
para dentro de mim
em um contínuo fluxo de medo.
Há a inquisição em mim mesmo
a rasgar minha pele.
Sinto o eterno crepitar
de suas asas a me acossar,
a me empurrar ao abismo
que trago em meu peito.
Sinto teu eterno toque de gelo a pressionar,
na umidez de minha fronte, teu sinal.
Me arrepio com teu hálito sujo
em minha boca,
anjo negro, torpe.
Há a insondável escuridão
onde flutuo agrilhoado pelos olhos,
onde plano sustentado em suas mãos.
Mas há também a raiva.
E esta vem de mim.
Derrama-se ao chão a ira contida
em interminável gotejar.
Transpiro esta ira
e o medo que aniquila
perante tua sombra,
sob o teu olhar.
Escorre dos meus poros
esta raiva cega
que me faz cuspir teu nome,
anjo negro, torpe.
Há a insondável escuridão
a me sugar ao centro do enigma,
ao olho do furacão.
E é entre o tormento dos suspiros
que decifro minha insana lucidez.
Plana no ápice escuro do meu eu
a manter equilibrado num meio fio curto
o que me resta de sensatez.
Minha vida é o fruto de minha ira.
O rochedo que emerge
do redemoinho negro que propagas.
A rocha à qual me agarro
ao ouvir na bruma negra do ar
o crepitar das tuas asas,
o bradar histérico do teu nome,
anjo negro, torpe.
Victor Barone
2 comentários:
Nossa! Que poema lindo! No meio de tantos textos jornalísticos seus, encontro essa pérola. Vou pincelar mais! Mas agora Morfeu me chama. Dia duro amanhã. A última estrofe incrível!!
Obrigado Adriana.
Na verdade Escrevinhamentos nasceu como um blog de poesia, mas aos poucos o jornalismo foi tomando mais espaço. Se quiser ler mais alguns poemas meus vá até a barra da direita, em ETIQUETAS, e clique em poemas. Beijo.
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