As Olimpíadas de Pequim são um show de aparências e mostram a verdadeira face de uma nação que por detrás dos avanços econômicos esconde repressão e desigualdade. A mesma China que sorri para o mundo através das belas imagens do esporte mantém fábricas onde se trabalha 100 horas semanais por salários ínfimos, patrocina o crescimento econômico em troca de um “socialismo de mercado” com características fascistas onde as liberdades individuais são apenas uma idéia vaga e impõe a países vizinhos como o Tibet sua vontade através da baioneta.
Desde a abertura dos Jogos, quando imagens gravadas dias antes foram apresentadas ao mundo todo como cenas ao vivo, a máscara de uma China moderna, perfeita e feliz tem sido oferecida a nós como quem derrama um véu sobre os olhos mais obtusos. Na China, a construção de uma imagem de perfeição vale mais que a realidade.
Talvez o ápice desta pantomima seja a menina de nove anos que encantou o público na cerimônia de abertura das Olimpíadas cantando o "Hino à Pátria" para 90 mil pessoas no estádio Ninho de Pássaro. Lin Miaoke estava, na verdade, fazendo "playback", substituindo a dona da voz, Yang Peiyi, dois anos mais nova, que não tinha a aparência desejada pelos organizadores para representar a "nova” China durante a abertura dos Jogos. Para o diretor musical do evento, Chen Qigang, Yang Peiyi não seria "bonita o suficiente" para participar do espetáculo. "Fizemos a escolha certa para a nação", declarou Chen a uma agência de notícias internacional.
A equipe da Rede Globo em Pequim trouxe a baila outro exemplo da “maquiagem” chinesa ao registrar um acidente envolvendo um acrobata que integrava uma equipe que divertia o público no intervalo do jogo de basquete entre as seleções da Austrália e Croácia, no domingo, dia 10. O rapaz fazia saltos com um trampolim de ginástica quando perdeu o equilíbrio no ar e caiu de uma altura de três metros, batendo violentamente com a cabeça. Um foto-jornalista do Suriname flagrou as cenas. O rapaz se arrastou para fora da área do evento e esperou cinco minutos até se atendido por médicos. A equipe da Rede Globo procurou informações sobre o estado de saúde do acrobata e obteve apenas a resposta de que ele estaria internado. O jornalista Pedro Bial resumiu com uma frase o caso: “Querem nos fazer crer que nas Olimpíadas de Pequim acidentes não acontecem”.
Nem mesmo o público escapou da manipulação chinesa. A organização dos Jogos tem contratado figurantes para lotar os estádios durante as disputas, como denunciou no dia 11 o Jornal Hoje, da Rede Globo. Por detrás dos animados torcedores chineses, dos sorrisos abertos, das figuras caricatas com perucas coloridas e bandeirolas há, na verdade, uma claque paga para aplaudir.
Esta é a verdadeira face de uma China que convenientemente maquiou suas mazelas – como a bárbara Revolução Cultural dos anos 60 – em troca de uma fachada de modernidade, prosperidade e felicidade. A que preço?
Victor Barone
3 comentários:
Você está corretíssimo em levantar esta bola e ontem mesmo conversávamos Felipe e eu sobre esta questão. Mas ditaduras vivem de aparência num teatro onde atrás da cortina a maioria sofre muito mas claro, o espetáculo deve continuar!
Não deixo de torcer, apesar disto, para nossos atletas.
São sentimentos conflitantes realmente!
isso me irrita e eu concordo com tudo que disse. por isso que me recuso a assistir os jogos e não sei como o mundo pode ficar tão feliz em tempos de guerra. aliás, potimo texto!
Ótimo texto, sim, velho. E é lamentável, sob qualquer aspecto.
O que fode o juízo é que desde o fim da polarização política com a Queda do Muro é que o apontar que o outro rei está nu, mesmo ao custo de que se aponte que o daqui também, saiu de voga.
É a Era do 'Veja Bem'.
Enviar um comentário