Semana On

segunda-feira, 17 de julho de 2006

Pensando a democracia e o voto...

A conquista da democracia gera a ilusão de que a política finalmente passou a ser uma atividade das massas. O voto a cada eleição não indica participação efetiva na política, mas apenas o exercício de um direito que, em nosso caso, é também um dever, já que é obrigatório. Boa parte da população nega a política institucionalizada, considera que é algo próprio dos políticos profissionais e se restringe a votar nas eleições.

O crescente descrédito em relação à política e aos políticos é uma reação compreensível. No fundo, o eleitor torce apenas para que os políticos não atrapalhem a sua vida. Acompanha o noticiário político como se este não lhes dissesse respeito direto. Sabe, entretanto, que determinadas políticas podem ser prejudiciais; quando muito, resiste, mas não vê o mundo da política como o “seu mundo”. Parece-lhe que os políticos vivem em outra esfera, são um mal necessário.

Este eleitor, na linguagem política, é classificado como alienado, uma espécie de analfabeto político, e representa o conservadorismo político. Mas a realidade não é tão simples. Primeiro, a minoria militante, aquela que se engaja na política, muitas vezes tem mais a conservar do que os que apenas “deixam a vida lhes levar”. Segundo, há uma diferença entre ser apolítico e anti-político (contra os políticos e a política partidária). Terceiro, não participar da política institucional não significa necessariamente não fazer política: a negação é também uma ação política.

Os indivíduos atuam por interesse, isto é, esperam recompensas. É a probabilidade de ser recompensado que move a política partidária – mesmo os idealistas esperam alcançar algo, nem que seja o reconhecimento de que são missionários de um novo mundo e quem sabe, por isso, alcançaram o paraíso celeste ou a imortalidade na memória das gerações posteriores. A palavra interesse, de origem latina, significa “estar entre”, “no meio”, “participar”.

Os partidos políticos são organizações voltadas essencialmente para os interesses, isto é, o estar entre os que têm acesso a determinados bens simbólicos e materiais inacessíveis à maioria dos representados e governados. Todo partido almeja o poder; alguns imaginam fazer a revolução conquistando o Estado. Porém, o objetivo declarado de conquistar o poder acaba se traduzindo na conquista do governo e de posições nas instituições.

Ocorre, então, uma inversão: são as instituições do Estado burguês quem conquista os partidos. O objetivo se reduzirá simplesmente à garantia dos cargos no partido e no Estado, e, assim, ter o poder de transferir aos seus seguidores, discípulos e apoiadores, as benesses da máquina do Estado.

Se todos parecem iguais, se o discurso de todos se equivale, por que participar desta política? O que realmente mudará se elegermos este ou aquele candidato? A impressão que fica é que tanto faz. Nestas condições, é lícito perguntar: por que votar? Para que servem os partidos políticos?

Os candidatos tentam responder a estas interrogações apresentando um discurso universalista, do bem comum e tentam ganhar ares de seriedade. Em tempos eleitorais, a educação, a saúde, a segurança etc., assumem tom de realismo virtual: todos são transformados em cidadãos e cidadãs! Todos parecem ter acesso aos direitos de cidadania ou prometem que usufruiremos e que tais direitos serão ampliados. Mas a vida real teima em desmentir a propaganda eleitoral.O eleitor mais simples se pergunta: por que não fizeram isto antes? Por que nesta época surgem propostas, que se apresentam como novas, para solucionar velhos problemas que permanecem para serem lembrados nas próximas eleições?

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